A andar para trás durante 24 horas por solidariedade
Determinado a angariar alimentos, brinquedos e roupas para o Complexo Social Marinel da Praia das Maçãs, uma das instituições do Exército de Salvação, Etrom comprometeu-se a caminhar de costas, ao longo da Avenida Heliodoro Salgado, em Sintra, durante 24 horas. A sua ‘maratona’ termina hoje, às 11 horas.
A andar para trás desde 1994, Carlos Henrique de Souza, que responde pelo nome de ‘combate' Etrom, tem 43 anos e uma profissão de artista plástico que vai deixando para segundo plano cada vez que assume o desafio de ajudar quem mais precisa.
"As pessoas vão vendo, perguntando e dizem que mais tarde, depois do trabalho, vêm trazer alguns bens", revelou Etrom, enquanto percorria a Avenida, sempre de costas, perante os olhares dos curiosos.
"Eu não me preparo para as 24 horas de costas. Sou um pouco místico. Mas tenho alguns cuidados, como preparar-me psicologicamente dois ou três dias antes da prova para não comer ou ir à casa de banho. Como barras de cereais e maçãs, que seguram o intestino. Para urinar faço como os ciclistas: caminhando, mas nunca paro. Quando se faz 24 horas de costas, a partir do momento em que paramos os nossos músculos bloqueiam. Desliga tudo", confessou.
Recordista de marcha invertida, Etrom já realizou uma proeza idêntica no Rossio, em Lisboa, para ajudar a Santa Casa da Misericórdia de Sintra. Mas como a vida é feita de metas, há ainda um sonho por realizar.
"O meu maior sonho é, no ano que vem, ter um convite de algum clube de futebol para tentar ser o primeiro atleta no mundo a ficar 24 horas sem parar em volta de um estádio. Estou aberto a qualquer convite. Aproveitaria essa oportunidade para fazer o mesmo que aqui: levar os adeptos a deslocarem-se ao estádio e doarem roupas ou brinquedos. Não quero nada financeiramente. Faço isto porque gosto mesmo".
E porque quem anda para trás não cansa, o que importa é querer ajudar.
"Dizem que caminhar para trás dá azar. No meu caso, as caminhadas que tenho feito para trás têm dado benefícios. Fala-se muito do negativismo. Mas se cada um fizer a sua parte, tomar uma atitude, seja atleta, artista ou pedreiro, é possível ajudar. Basta querer", concluiu o atleta.
in Correio da Manhã